Em meu primeiro emprego, tinha um colega chamado Armando. Era um típico “geninho”, nos seus trinta e tantos anos, um pouco acima do peso, de fala mansa e olhar com brilho discreto.
Como uma grande parte dos paulistanos, Armando ia trabalhar de motocicleta. Estacionava seu veículo na garagem da empresa e, equipado com suas botas, luvas e capacete, dirigia-se ao seu posto de trabalho. Sim, passava pela recepção, contabilidade, comercial e ia até sua mesa com o capacete na cabeça...e sem falar com ninguém...
O mais engraçado é que o “Capa”, como era chamado, além do capacete real, possuía a “síndrome do capacete virtual” que o conservava o dia inteiro em um mundo paralelo, com o mínimo possível de contato com os colegas. Ah, esse Armando...quantas oportunidades perdidas, quanto contato interessante, enriquecedor, saudável jogado fora...
Tempos depois, eu já estava em outra empresa e soube que ele vendeu a moto e o capacete real. O virtual “procriou” e virou uma epidemia nas empresas...
Na empresa que eu estava, o diretor recém chegado, não obedecendo a uma regra clara de conhecer o terreno em seus primeiros dias, resolveu colocar todas as divisórias do departamento abaixo. Segundo sua teoria, isso iria reduzir as barreiras entre os departamentos, facilitaria a comunicação, até reduziria os “feudos corporativos”.
Perfeito!! Genial!! Magnífico e exemplar se ele, ao chegar, pelo menos olhasse para seus colaboradores... Seu primeiro contato com as pessoas acontecia (quando acontecia...) somente por volta das 10:30 da manhã... Cada vez mais irritado, não compreendia como não conseguia envolver e motivar sua equipe.
Soube, mais tarde, que um de seus hobbies era o motociclismo. Epa!! Será que ele comprou a moto e o capacete do Armando? Ou foi “infectado pela síndrome do capacete virtual”?
Conheço empresa que obteve queda expressiva dos resultados, simplesmente por eliminar o ritual do cafezinho pela manhã. Na verdade era muito mais que cafezinho, era a celebração diária do “para onde vamos?”, “como vamos?”, além da transparência e harmonia do ambiente de trabalho!! Preocupante?
E você, amigo leitor, conhece alguém que, mesmo sem pilotar uma moto, faz uso constante de seu “capacete virtual”?
Dill Casella é autor do livro “Atitude e Altitude” pela Editora Vozes, de dezenas de artigos publicados em mídia impressa e digital e um dos palestrantes mais criativos e contratados atualmente no Brasil!