A frase que dá título a este artigo foi ouvida por mim, com pouco mais de vinte anos de idade, no início dos anos 90, durante o inesquecível espetáculo “Noturno”, da Oficina dos Menestréis, em São Paulo.
Ao final da peça, comprei a fita K7 com a trilha sonora do musical e, seguidamente, ao ouvir aquele trecho, maravilhosamente interpretado pelo Deto Montenegro (falo de impostação de voz, intensidade da mensagem e, acima de tudo, da atitude, do “grito desesperado e indignado” do ator/diretor), sentia-me respaldado, com o sentimento de indignação musicado. Algo parecido com o “Brasil, mostra a tua cara” de Cazuza!!
Vou evitar falar de aspectos pontuais, principalmente políticos da época. Fato é que vivíamos uma inflação galopante, instabilidade econômica e social. Vivíamos tempos de corda bamba, não tínhamos acesso a tantos meios de comunicação (se comparados com hoje) e conseguimos arquitetar a indignação e, principalmente, a reação!!
Hoje parece que vivemos uma inversão: da evolução da tecnologia e de seus recursos pelo abandono de aspectos tão primários e fundamentais para o pleno desenvolvimento do ser humano. Eu explico: pesquisa recente, mostrou que o brasileiro, mês a mês, fica uma hora a mais na internet. A média de julho de 2007 foi de 23,5 horas / mês (19% mais que o americano, 26% mais que o japonês e 30% mais que o alemão). Poderia parecer o início de uma reação cultural se eu não tivesse ido a várias “lans” e identificado que a esmagadora maioria navegava em sites de relacionamento ou simplesmente participava de jogos solitários e isolados.
Num artigo de Ruy Castro, além de reforçar a informação acima, o autor cita uma outra pesquisa em que o jovem brasileiro tem deixado de praticar esportes, dormir, ler livros, sair com amigos, ir ao cinema, teatro e estudar por causa da internet. Vai mais além, dizendo que o jovem está deixando também de namorar (de maneira real e não virtual), ir à praia ou ao futebol, visitar a avó, conversar fiado ao telefone e flanar pelas ruas chutando tampinhas...Maravilhosa observação!!!!
Nas últimas semanas, ao ler jornais de circulação nacional, deparei-me com algumas manchetes assustadoras: “Crescem casos de alcoolismo entre mulheres”, “Brasil registra 3,5 vezes mais acidente aéreo do que a média”, “Doação de órgãos cai pelo terceiro ano seguido no país” e “49% dos brasileiros são sedentários”. Caro leitor, ser sedentário em um país tropical como o nosso é vergonhoso!! Vou procurar meu par de tênis agora mesmo!!
Continuarei evitando abordar aspectos políticos, escancarados diariamente em todos os meios de comunicação...(que fase...). Mas a OMS (Organização Mundial de Saúde) já demonstrou que cada real investido em prática esportiva massificada equivale a três economizados com saúde pública!! Uma questão de matemática e de ATITUDE!
No maravilhoso livro “O líder do futuro” (Editora Sextante), John Naisbitt reforça a campanha de que todas as salas de aula devam ter, de fato, pelo menos um computador, até chegarmos a um micro por aluno. No entanto, faz campanha paralela para que haja um poeta em cada sala de aula!! Que toda a energia e dinheiro direcionado para o computador não ocorra em detrimento à poesia, arte, música, etc.
Necessitamos, de fato, de entendimento técnico e imaginação artística, balanceando alimentar as habilidades intelectuais com doses equilibradas de talento emocional e espiritual.
A reação ao absurdo virá de cá, pode ter certeza. Jamais de lá...
Dill Casella é autor do livro “Atitude e Altitude” pela Editora Vozes, de dezenas de artigos publicados em mídia impressa e digital e um dos palestrantes mais criativos e contratados atualmente no Brasil!